terça-feira, 28 de setembro de 2010

Querido F,

estou num daqueles momentos de explosão de sentimentos. É um turbilhão de cheiros, gostos, sensações e lembranças diversas te cercando por todos os lados... e quando você se da conta, está tão imerso que fica paralisado.
Estou paralisada tentando digerir cada parte que [nos] envolve.
É mais uma daquelas noites de trabalho, que tinha tudo para ser banal. Conversas comuns, atenção sempre voltada aos moldes e costuras e mais um boa noite.
O boa noite sempre me da uma sensação 'tristinha' de que só amanhã.
Então lembrei daquela música. Aquela nossa música, primeira de todas. A que me tirava o ar.
Resolvi ouvi-la enquanto trabalhava, mas aqui estou. Ouvi uma, duas vezes, até recobrar a consciencia e de certa forma acalmar esses sentimentos que voltam com tudo à tona. Sentimentos e lembranças que eu tento reconhecer e nomear um a um, mas que passam tão rapido, me deixando tão tonta que não consigo ver seus rostos.
Eles me engoliram.
E eu estou num misto enorme de riso, choro e saudade.
Saudade de inseguranças, incertezas, de começos. De medos que tive, dos primeiros sorrisos e de cada coisa nova que descobria a seu respeito.
Saudade de uma fase. Porque vejo que não somos mais aqueles dois, somos maiores. Amadurecemos juntos e construimos esse relacionamento juntos. Esse amor.
Mas posso dizer com certeza que o diferente não é melhor nem pior, é apenas diferente. Afinal, o que apenas um segundo da nossa música me causa, prova que a cada momento, palavra e sorriso, crescem mais meu amor e minha admiração por voce.
Obrigada por me proporcionar noites de trabalho interrompidas por lembranças incríveis.

Com amor,
B.


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Eu te amo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Escultores de Nuvens

Está sendo um dia difícil.
Então resolvi deitar um pouco a tarde para ver se acordava com outros ares, se sonhava com uma explicação ou apenas um momento bom.
Bem, nada disso. Apenas uma frase ecoando ao acordar
"Nuvens são esculturas de ar."
Pode parecer a maior tolice do mundo, mas eu concordo com essa minha mente tola, afinal, ela é minha.
Michelangelo dizia que a escultura ja estava adormecida na pedra antes mesmo de ser esculpida.
Era o escultor quem devia acorda-la.
Pois eu digo o mesmo com as nuvens.
Tem gente que simplesmente olha pro céu e solta um resmungo qualquer.
Tem gente que olha, admira e logo deposita sua atenção na bicicleta que está passando ou na pomba que voou ali do lado.
Mas tem gente, esses tais escultores de nuvens, que simplesmente enxergam ali mais do que formas de algodão. Enxergam um mundo todo em branco, cinza e azul.
E os outros ficam sem entender porque você fica horas olhando pro céu.
E quando você diz, entao "Olha alí, os piratas procurando o tesouro. Nossa, que velas lindas o barco tem." Riem, acham fofinho, mas simplesmente não entendem. As vezes até procuram, mas não "acham".
CLARO!
O barco, os piratas, o tesouro. Tudo isso está na cabeça de quem os enxergou. Ainda não foi esculpido para que os outros pudessem ver.
E sabe, essas pessoas não enxergam nada além de "um amontoado de algodões brancos", porque não são capazes de olhar além. Além de tudo aquilo que é fisico, material. Eles não conseguem olhar para dentro deles mesmos.
O mundo é como o céu e suas esculturas de ar. Você pode olhar, mas não dar valor. Pode admirar, mas não prestar atenção ou pode olhar com carinho e além, até enxergar os mínimos detalhes e cada oportunidade de olhar para dentro de sí e enxergar algo bom.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Isso, com certeza, é um erro.

Porque as pessoas vivem querendo que sejamos exatamente o que elas planejaram?
Eu devo fazer isso também... muito. E agora eu sei que cansa, eu sei que não é certo.
Porra, me deixem com minhas loucuras, minhas incertezas, meus medos e desconfianças.
Me deixem errar, PELO AMOR DE DEUS, me deixem apenas errar por um segundo.
Por dois, por todos.
Porque o que mais frustra é tentar ser perfeita 25 horas por dia e no final de tudo se dar conta de que você só errou esse tempo todo.
Daí você quer ficar triste, ser egoísta e mandar o mundo todo, com as responsabilidades todas, à merda.
E você simplesmente não pode, porque não deixam.
ME DEIXEM ERRAR, mundos.
Me deixem ser toda errada.
Pra que, quem sabe, no final de tudo certo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Suspiro

Eu queria ser o vento.
Queria viajar o mundo, conhecer as pessoas e os segredos
que só contam ao vento.

Eu queria ser o vento.
Assustador e sorrateiro em inquietantes tempestades,
e uivar em noites frias sem ninguem me ver.

Eu queria ser o vento.
Para afagar sua pele lisa e branca
enquanto você fecha seus olhos só para me sentir.

Eu queria ser o vento.
Para lhe espirrar agua da chuva quando estivesse bravo,
e lhe refrescar o corpo todo num dia quente de verão.
Porque você é irresistível.

Eu queria ser o vento.
Para varrer sua alma pelos olhos
e te tragar pra dentro de mim.

Eu sou o vento.

sábado, 4 de setembro de 2010

Hipnose

Era um dia ideal, céu azul, sol e e aquele som de mar. Ela estava ali sentada, na areia, com seu vestido velho e florido de flores miúdas e vermelhas. Velho, porém bonito, seu preferido. Nos seus pensamentos ela corria e brincava. Ouvia dentro da sua cabeça o som das gaivotas, do quebrar das ondas e do riso daqueles que amava. E lhe escapava um sorriso ao lembrar daqueles momentos. Timido, que fazia ela pensar "o que vao achar de uma guria sentada na areia e sorrindo sozinha?" e gargalhava por dentro. Uma risada gostosa e antiga. O que ela queria mesmo era fazer parte o mundo. Se sentir livre como sempre. Ela queria ser parte da terra de onde veio, do seio natural que alimentava sua alma.
Levantou-se então, partiu em direção ao mar, calma, sentindo a areia se tornar umida a medida que se aproximava e então aquela onda repentina lhe inundar os pés. A água estava morna e lhe acariciava. Continuou caminhando, sentindo a maresia lhe afagando a pele, aquele sopro a consumia. A agua na cintura e as ondas quebrando. E ela sorrindo. De súbito mergulhou, sumiu. Sentou no fundo do mar e enfiou seus dedos na areia, como a enterra-los. Sentiu-os sendo sufocados por aqueles graos tao pequenos. E lhe faltou ar.
Emergiu sem pressa, como se fizesse parte do oceano, como se aquilo tudo fosse dela.
Continuou sua caminhada, então, rumo a não-se-sabe-onde. A água no pescoço e seu vestido roçando o corpo, leve, dançando ao som da corrente.
Seus pés mal tocavam o fundo, da praia não se enxergava ela entre as ondas. Mas o oceano era dela.
De repente parou, fechou os olhos e largou seu corpo. Sentiu-se afundar, as pequenas bolhas desformes saindo pelas narinas e lhe fazendo cocegas no rosto. Sorriu, riu um riso imerso. E a agua lhe penetrou o corpo. Queimou-lhe as vias, sufocou-lhe os orgãos, ceifou-lhe a vida, como se aquilo fosse o natural.
O vestido velho bonito florido embalou então o corpo inerte que ainda sorria e ela agora fazia parte do mundo que queria.