Era um dia ideal, céu azul, sol e e aquele som de mar. Ela estava ali sentada, na areia, com seu vestido velho e florido de flores miúdas e vermelhas. Velho, porém bonito, seu preferido. Nos seus pensamentos ela corria e brincava. Ouvia dentro da sua cabeça o som das gaivotas, do quebrar das ondas e do riso daqueles que amava. E lhe escapava um sorriso ao lembrar daqueles momentos. Timido, que fazia ela pensar "o que vao achar de uma guria sentada na areia e sorrindo sozinha?" e gargalhava por dentro. Uma risada gostosa e antiga. O que ela queria mesmo era fazer parte o mundo. Se sentir livre como sempre. Ela queria ser parte da terra de onde veio, do seio natural que alimentava sua alma.
Levantou-se então, partiu em direção ao mar, calma, sentindo a areia se tornar umida a medida que se aproximava e então aquela onda repentina lhe inundar os pés. A água estava morna e lhe acariciava. Continuou caminhando, sentindo a maresia lhe afagando a pele, aquele sopro a consumia. A agua na cintura e as ondas quebrando. E ela sorrindo. De súbito mergulhou, sumiu. Sentou no fundo do mar e enfiou seus dedos na areia, como a enterra-los. Sentiu-os sendo sufocados por aqueles graos tao pequenos. E lhe faltou ar.
Emergiu sem pressa, como se fizesse parte do oceano, como se aquilo tudo fosse dela.
Continuou sua caminhada, então, rumo a não-se-sabe-onde. A água no pescoço e seu vestido roçando o corpo, leve, dançando ao som da corrente.
Seus pés mal tocavam o fundo, da praia não se enxergava ela entre as ondas. Mas o oceano era dela.
De repente parou, fechou os olhos e largou seu corpo. Sentiu-se afundar, as pequenas bolhas desformes saindo pelas narinas e lhe fazendo cocegas no rosto. Sorriu, riu um riso imerso. E a agua lhe penetrou o corpo. Queimou-lhe as vias, sufocou-lhe os orgãos, ceifou-lhe a vida, como se aquilo fosse o natural.
O vestido velho bonito florido embalou então o corpo inerte que ainda sorria e ela agora fazia parte do mundo que queria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário